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Na Poltrona por Ibertson Medeiros






Inicialmente, gostaria de agradecer ao Rogério pelo convite feito a mim para participar da coluna “Na Poltrona” desse mês. Como contribuição, escrevi esse texto, cujo tema principal é, obviamente, o cinema, a cultuada sétima arte que tanto nos fascina, diverte, emociona e inspira, mas que às vezes também nos perturba, inquieta, decepciona ou aborrece. Resumindo, o cinema é uma arte que mexe com nossos sentimentos, sendo praticamente impossível ficar indiferente com aquilo que nos é mostrado na tela, gerando opiniões divergentes em cada cinéfilo, de uma forma negativa ou positiva em relação à obra conferida. Esta conseqüência natural que surge após os créditos finais de um filme possibilita a criação de debates, resultando não somente na diversão pura e simples, mas também a um acréscimo de informações, de realidades diversas da nossa e de culturas diferentes da que estamos habituados.

E não há lugar melhor para experimentar isso que no escurinho do cinema. Infelizmente, não é dado o devido valor a ele aqui na região do Cariri. Tanto é que só conheço o Cine Cariri, situado no shopping em Juazeiro do Norte. Desconheço a existência de outros na região. No entanto, ainda é uma boa opção para quem gosta de filmes projetados em uma grande tela, apesar de ter que melhorar em diversos aspectos. Por que no Cariri existe um bom espaço para o teatro (A Mostra SESC de Teatro que o diga), artes plásticas, pinturas (Só visitar o SESC de sua cidade ou o CCBNB em Juazeiro do Norte que poderá apreciar belas obras) e música (Expocrato, Juaforró e diversos outros eventos, o que não importa dizer que os artistas que tocam neles sejam de boa qualidade), mas o cinema é relegado a último plano?

Crato, conhecida por ser a capital da Cultura no Cariri, já teve ótimos representantes, como a extinta Sessão de Arte no SESC, que possuía uma boa divulgação e um público interessante (Saudades da Mostra 21, que exibia 21 filmes aclamados pela crítica especializada e teve algumas edições) ou os extintos Cine Moderno, Cine Cassino e Cine Educadora. Hoje não temos nenhum evento considerável relacionado à sétima arte na cidade.

Para os órfãos nessa área, ainda resta o já citado Cine Cariri e vou falar justamente dele. Criado entre 1997 e 1998, após a construção do Cariri Shopping, em Juazeiro do Norte, é um cinema que já nos proporcionou diversas alegrias e algumas decepções, mas tendo como resultado final um saldo positivo. Propriedade da Orient Cinemas, líder nesse segmento na Bahia, o Cine Cariri possui apenas duas salas de exibição de filmes, com pouco mais de 150 poltronas em cada, um telão não tão grande, se comparado com os de capitais, mas de tamanho razoável e um sistema de som que já passou de horrível para bom, atualmente (Ainda lembro do sufoco que foi assistir Os Infiltrados, de Martin Scorsese, no Cine Cariri, com um som sofrível que não dava para ouvir os disparos de uma pistola ou a trilha sonora de uma forma decente).

Quanto às estréias, temos prós e contras. Filmes mais badalados, como blockbusters, entram em cartaz na data correta nacional, com alguns atrasos acontecendo freqüentemente. Animações e filmes brasileiros tem espaço garantido, estes últimos com produções mais populares, com elenco composto por atores da Rede Globo, na maioria das vezes. Não que seja ruim, mas, convenhamos, o cinema nacional atual precisa comer muito feijão com arroz para se tornar digno de aplausos e enquanto ficar regido pela empresa do finado Robert Marinho continuará nesse mesmo estado. Tanto é que o filme que nos representará no próximo Oscar será “Salve Geral”, uma obra bem mediana de acordo com os críticos. Já com relação aos filmes mais alternativos, o atraso é uma constante. Esperamos às vezes três meses para conferir um filme e quando finalmente estréia, passa somente uma semana em cartaz.

Muitos não gostam de ler legendas (Os americanos são exemplos concretos, donos de uma crise criativa imensa nos dias atuais, cujas produtoras criam remakes de obras estrangeiras sem vergonha nenhuma, em uma proporção exagerada, somente para não terem que ler legendas), mas perde-se muito com a dublagem, pois não ouvimos o áudio original do filme e as vozes dos atores são trocadas pelas dos dubladores, na maioria das vezes em uma dublagem de péssima qualidade. O fato é que não é mesma coisa conferir um filme com seu áudio original e o mesmo longa-metragem com um idioma dublado. Preguiça ou falta de hábito com a leitura? Não sei, mas, com exceções, a maioria das cópias dos filmes enviadas para o Cine Cariri são dubladas (Animações não contam, pois geralmente elas são 99% dubladas com o nosso idioma quando chegam ao Brasil).

As estréias do Cine Cariri geralmente passam antes pelo Cine River, de Petrolina, filial da Orient Cinemas ou acontece o contrário, ou seja, primeiro passam pelo cinema de Juazeiro do Norte para depois serem transportadas para o Pernambuco. Com a reforma do Cariri Shopping, prevista para terminar no final de 2010, quem sabe o Cine Cariri ganhe mais salas, seja reestruturado e esses problemas com as estréias, prevalência de cópias dubladas sobre as legendadas e som instável sejam sanados? Concluindo, apesar de ter uma escassez de cinema na região, devemos dar valor ao Cine Cariri, cujo proprietário luta firme e forte como único remanescente para os cinéfilos que querem conferir filmes atuais. Com nossa ajuda, podemos deixá-lo ainda melhor e futuramente possamos até ganhar novos cinemas e eventos relacionados à área na região.

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